quarta-feira, 17 de novembro de 2010

SOBRE OS POETAS

Às vezes, as palavras queimam. Abrem lumes de prata na negrura da impossibilidade de as dizer. São lua que se derrete no mar. Luz. Música. Silêncio líquido.
Nasce, então, a poesia: poeira lírica do céu que a mão frágil do poeta semeia. Ousadia, talvez.
O poeta tem palavras enredadas nos dedos: rosários de amores e desencantos, de medos e de esperanças. Com elas, adoça a vida, escreve o mundo e partilha imagens como quem conta um segredo.
O poeta tem beijos na voz. E desenha com eles mapas de sentidos num tempo que não conta. Azul. Divinamente azul. Tecidos com fios de luz, bordados com o arrepio que o vento acende nas paredes dos olhos.
O poeta encanta a noite. Como Oriana, a fada boa da Sophia que, um dia, se esqueceu de si para se dar aos outros. Asas. O poeta tem asas na voz. Música. As palavras do poeta rezam na dança dos sons, na paz branca que deixam cair no silêncio das folhas.
O poeta é irmão dos seus irmãos de humanidade. Ama-os, na generosidade da sua entrega. Dá-se, na alegria de abrir o peito e de mostrar a luz que transmuta em palavras. Faz delas razão de ser quem é: artífice, grito, silêncio, mundo e vazio, tempo e eternidade, ilha e universo.

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